Eu já estava esperando que os chineses fossem dominar o mundo, mas não imaginava "sentir isso na pele" tão cedo. Digo isso porque tenho a impressão que eles estão tentando recolonizar o Chile.
Chegaram os estudantes que vão passar um semestre acadêmico aqui e, quase todos, são chineses. Aí, em colônia, eles colocaram as asinhas de fora. Na festinha de boas vindas da última sexta, as meninas cercaram a churrasqueira e, com toda a destreza de quem está acostumada a cortar tofu e bambu, acabaram com a alegria alheia. A carne ficou dura pra caramba e, mesmo assim, foi devorada por elas antes que fosse servida ao resto do povo.
No fim, gastei 2 mil pesos pra comer um pedacinho de choripan e depois saí em busca de uma empanada pra matar a minha fome antes da balada. A parte boa é que acabei conversando mais com outros dois brasileiros que estão aqui no El Punto e que também vieram ao Chile para estudar espanhol (só que estão em outra escola). A verdade é que não tem jeito.... a gente tenta se aproximar de alemães, australianos, chilenos e espanhóis, mas os brasileiros continuam sendo os mais legais =)
Por isso, passei o final de semana passado na companhia deles.
Sábado fez um dia muito feio e cinzento, então tratamos de colorí-lo com comida e teatro: almoçamos no mercado central e depois fomos ao shopping Parque Arauco, onde assistimos à peça Ardiente Paciencia - El cartero de Neruda. No primeiro lugar havia um monte de turistas (brasileiros, como sempre) comendo centoia, um tipo de caranguejo gigante que, dependendo do tamanho, pode custar até 100 mil pesos - uns R$ 380. É um ritual muito legal: o crustáceo chega inteiro à mesa e, não raro, as pessoas se levantam para tirar fotos com ele nas mãos. Depois, o garçom começa a destrinchar as patinhas do bicho na frente do cliente, para garantir que nenhuma delas foi "sacada" antes que o prato fosse servido - afinal, seria um prejuízo de uns 5 mil pesos por perninha desaparecida! É interessante, mas eu apostei num linguado com molho de camarão. Estava bom, mas não foi inesquecível. Fora isso, o mercado não tem nada demais: só umas barracas vendendo peixes frescos. Um mito que não me convenceu muito... ainda acho que o de São Paulo é bem mais mercado que esse daqui. Valeu pra dizer que estive lá.
Depois, por falta de opção em um dia chuvoso e por costume de paulistana, fui ao shopping. As meninas sempre falaram que o Parque Arauco era bonito e bom para compras e eu já me sentia na obrigação de ir conhecê-lo. Acho que todo mundo teve a mesma ideia e lá estava lotado! Mas o lugar é realmente bom e está cheio de lojas chiques, restaurantes, pista de patinação, cinema e teatro. A peça a gente descobriu por acaso, quando estávamos passeando por lá. E foi um ótimo programa! É uma adaptação para o palco do filme "O carteiro e o poeta", que se passa em Isla Negra e conta a história da amizade entre Pablo Neruda e o carteiro Mário na década de 70. Uma mistura de narrativa romântica e divertida, com pano de fundo político da época do golpe militar. Foi a primeira vez que me senti fazendo algo tipicamente chileno por aqui.
O clima nos animou a ir conhecer Isla Negra no domingo. A cidade esta a 120km da capital e vive em função do turismo gerado pela casa do poeta. Foi lá que ele morou por mais tempo em sua vida e é onde ele e sua última esposa, Matilde Urrutia, estão enterrados. A obra e a decoração são únicas - ele dava pitacos no projeto arquitetônico e deixava o local com a sua cara e apto a receber suas coisas colecionadas (como caramujos, insetos, máscaras e barcos). Os próprios arquitetos diziam que ele era responsável pela maior parte da concepção das 3 casas. Além disso, há vários ambientes onde as paredes foram substituídas por vidros para que ele pudesse ver o mar e espaços reservados a objetos excêntricos, como mascarones de proa e até um cavalo de madeira em tamanho real. Pena que não pode tirar fotos lá dentro, mas, em caso de curiosidade, se pode ver um pouquinho no site
http://www.fundacionneruda.org/index.php
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Isla Negra - A cidade que tem só um quarteirão |
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"Brincando com o busto" |
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Parte externa da casa |
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Fonte de inspiração |
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Ele amava o mar, mas tinha medo dele. Então, convidava os amigos pra beber no
barco e dizia: "Não é necessário estar na água pra ficar mareado" |
Enfim.... eu visitei as três casas do poeta (Santiago, Valparaíso e Isla Negra) e tive certeza que ele foi uma pessoa muito especial, com uma cabeça que pensava de maneira muito distinta e envolvente em suas teorias malucas, como de que que beber em copos coloridos dá mais gosto à água e que se deve escrever com tinta
verde, porque a cor simboliza a esperança. Entre as meninas, o consenso é que ele deve ter sido um homem apaixonante - apesar de muito feio - e que, se tivesse vivido na era do SMS, seria muito perigoso! Hoje descobri que ele tem em sua casa de Valparaíso uma série de imagens de mulheres chinesas e que escreveu um poema para elas. Vai ver é por isso que todas elas estão se mudando pra cá!
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