"Cavalgando" nos Andes

No meu último post sobre Cajon del Maipo, eu comentei que se tratava de um lugar tão bonito que não precisamos sequer fazer alguma coisa para aproveitá-lo. No entanto, após ouvir histórias de pessoas que planejaram a ida até os parques da região, cheguei à conclusão de que eu devia voltar pra lá de forma mais organizada, pois eu poderia curtir ainda mais o passeio.

Me disseram que táxis coletivos saiam de uma estação de metrô e deixavam os passageiros na porta de um dos melhores parques da região: Cascada de las Animas. Nesse local, eu poderia escolher entre cavalgar, caminhar, fazer tirolesa, rafting ou um passeio por vinícolas. Como eu estava cansada por ter esquiado no dia anterior e com pouca disposição pra fazer trekking até o local onde a paisagem fosse bonita (5hs de caminhada íngreme), resolvi deixar o esforço com o cavalo e escolhi um passeio de pouco mais de 2 horas até um mirador. Óbvio que eu não fui com as minhas botas de montaria para não destruí-las e, talvez, esse tenha sido meu primeiro erro de estilo.

No começo eu estava com medo, porque não sei andar a cavalo e meu contato com eles sempre foi estabelecido com a distância mínima de uma charrete entre nós. Mas um amigo que já fez um passeio desses por aqui me disse que eu não precisaria me preocupar, pois o animal faria tudo sozinho. A afirmação me fez relaxar até a hora que o nosso guia, que se chamava Donald parecia um personagem saído da Casa das Sete Mulheres, apareceu com os animais. Para mim ele escolheu o Totó (nome fofinho, né?), um cavalo faminto e que, um dia, deve ter sido branco.




Logo que eu montei, ele deu a dica: "Mostre a ele que é você quem está no comando e não o deixe comer, pois agora não é hora pra isso. Se ele for permitido uma vez, vai querer fazer isso por todo o caminho e pode te importunar". Eu disse que entendi, mas pensei em silêncio "Quero só ver.... Eu não consigo me impor nem com meu próprio Golden adestrado e tendo um pedaço de biscoito na mão". Mas já tava tudo certo e eu que não ia pensar em desistir naquele momento.

Começou o passeio e eu tentei ser firme e assertiva, como o César Milan fala que devemos ser em "Encantador de Cães". Se essa é a postura com os caninos, também deveria servir para a relação dos humanos com os equínos. Cada vez que o Totó se aproximava de uma moitinha, eu o puxava para o lado oposto com força e determinação. Mas isso adiantava pouco.... só deixou minhas mãos levemente machucadas pelo atrito com a corda. Apelei então meu próprio método de amizade com animais: carinho. Eu passava a mão no seu pelo sujo e mandava os tradicionais beijinhos curtos pra ele "smack/smack/smack". E assim subimos por todo o caminho. Depois eu vi as fotos e notei que eu ainda preciso de um pouco mais de jeito e postura pra ser uma Adriana Esteves dos cavalos e que, talvez por isso, ele não tenha me respeitado tanto.


O ponto alto do passeio era uma vista para a Quebrada da Manzanilla. Um lugar indescritível e que, ao fundo, tinha as montanhas nevadas da cidade de São Gabriel. O lugar era maralhoso e o silêncio dali trazia uma ótima sensação de paz e satisfação. Minha vontade era ficar lá, quietinha, por horas.... mas o Donald só nos permitiu uns 20 minutos.




Eu desconfio que  Totó tenha ficado irritado por não poder ter visto a paisagem, porque ele ficou ainda mais chatinho e descontrolado na hora de descermos. A essa altura ele me ignorava e entrou comigo no meio de uns arbustos. Eu não sabia se usava as mãos pra tirar os galhos da frente ou pra puxá-lo dali e comecei a ficar nervosa e a suar frio com a situação, porque, se ele resolvesse fazer um movimento brusco e eu perdesse o controle, não tinha nenhuma "zona de escape" ali perto. O Donald dava uns gritos de longe tipo "HAIGA!!!", que devia ser pra que ele voltasse pro foco, mas não estava rolando. Meu amigo tinha razão: o cavalo faz tudo sozinho mesmo.... ele só esqueceu de avisar que eu podia não gostar muito do que ele fizesse. Por fim, o Donald tomou as rédeas do Totó e desceu montado no cavalo dele e puxando o meu. 


Foi levemente humilhante, ainda mais porque tinha uma belga no grupo que estava dominando o seu cavalo e dava até umas trotadinhas com ele, mas eu não estava em condição de questionar. A tensão era tanta que eu demorei um tempão pra conseguir voltar a prestar atenção ao meu redor e curtir a paisagem. 

Depois que passou a parte mais íngreme, o Donald me devolveu as rédeas e eu fui com o cavalo até o celeiro. Chegando lá, a belga ainda quis viver a experiência de cuidar do seu cavalo e começou a tirar a sua sela e penteá-lo. Eu tratei de me esconder no cantinho e esperar que aquilo terminasse logo, pois o cheiro do ambiente não era dos mais agradáveis.

Enfim... apesar da dose extra de aventura, o passeio foi ótimo e a paisagem supera a sensação de medinho na hora de voltar. Foi excelente o meu último domingo no Chile e, se eu puder recomendar algum lugar próximo de Santiago para se conhecer, eu recomendo Cajon del Maipo - com ou sem planos.

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