A la nieve

Vir ao Chile nessa época do ano é um convite para visitar uma estação de esqui. Mesmo quem não é a fim de se arriscar descendo as montanhas em cima de um ski ou snowboard, tem vontade de ir conhecer o local para desfrutar da paisagem.

As montanhas ficam cobertas de neve, as revistas de fofoca trazem celebridades para serem fotografadas aqui e as empresas inventam descontos, estandes e espaços vips para se promoverem. Várias pessoas, inclusive, estão no Chile só para isso. Elas ficam hospedadas nos hotéis dentro das estações e passam dias praticando, praticando e praticando. Até acho "phyno", mas eu só faria isso se pudesse aproveitar minhas outras 3 semanas de férias conhecendo vários lugares diferentes. Fora que esse é o tipo de férias das quais vc volta com um monte de fotos iguais! Afinal, não mudam nem a paisagem e nem as roupas. No meu caso, fiz questão de trocar o cachecol pra poder distinguir o dia, pois o casaco e a calça eram sempre os mesmos (fiz um bom negócio e acabei comprando).

A minha primeira vez foi no Farellones, a mais baixa e barata das montanhas aqui do Chile. Dizem que lá é o lugar ideal pra quem está querendo começar ou pra quem só quer brincar um pouco na neve, pois tem um parque onde se pode descer com bóias. Voltei de lá e todos me perguntavam: "E aí, caiu muito até aprender?" e a resposta era "Cai muito e continuei sem aprender, mas valeu pelo passeio". No dia seguinte eu acordei com dores em todo o corpo e a vergonha de lembrar que atolei na neve fofa, que cai no meio do lift e não consegui levantar, que o cara que tomava conta do lift olhava pra minha cara e cascava o bico da minha performance, que peguei uma pista avançada por engano e a desci rolando, que fiquei meia hora tentando encaixar a bota no esqui na frente de uma rampa que os experts usavam para saltar (e eles putos pq eu não sabia como sair da frente) e que eu não tinha controle da velocidade e que chegava na fila do teleférico gritando "Peligro, peligro.... tengam cuidado comigo" e que acabava me jogando no chão pra não atropelar a galera.

A essa altura eu achava que era um passeio muito caro para pouco proveito, mas, como meu irmão veio passar um final de semana aqui e também fazia parte do grupo de pessoas que precisa muito esquiar, aceitei voltar com ele para a montanha. Dessa vez fomos ao Valle Nevado (mesmo como iniciante, ele adora glamour!) e eu entendi um pouco melhor porque as pessoas gostam dessa brincadeira. Começa que o lugar é maravilhoso.... pena que as fotos não podem retratar exatamente o que os olhos vêem.



Além disso, a estação é bem maior que a Farellones, oferece muitas opções de pistas para todos os níveis de praticantes do esporte e também tem um espaço mais agradável para quem está ali somente para apreciar. É claro que existem os poréns: o preço também é bem maior que o do Farellones e mais espaço significa mais gente em todos os cantos e desorganização para receber as pessoas (ele não têm nem lockers e nem mesas para atender à demanda).

Dessa vez eu já me sai um pouco melhor, o que me animou a voltar lá no meu último final de semana no Chile. Me programei direitinho e reservei o transfer com a escola para que eu pudesse sair um pouco mais tarde e ir com mais gente conhecida. O grupo se dividiu logo na parada pra aluguel de equipamentos, quando metade resolveu seguir pro Farellones e a outra metade pro Valle Nevado. E, entre os que foram ao Valle Nevado, só eu e mais um estávamos a fim de esquiar.

Como nevou muito por aqui na última semana (até na cidade de Santiago caíram flocos de neve - coisa que acontece a cada 3 ou 4 anos), um monte de gente aproveitou o sábado pra esquiar, o que implicou em muito trânsito na estrada pra estação e em muitas filas em todos os lifts. Para evitar a muvuca na volta, combinamos de estar na van às 16h30 para voltarmos. Uma gringa não cumpriu o acordo e nos deixou esperando até 17h45, quando o motorista desistiu dela e resolveu descer mesmo assim.

Resultado: a estrada já estava cheia de gente e o trânsito estava péssimo. Uma das meninas da escola, que passou mal o dia todo por causa da altitude, levou o seu enjôo para a van e gorfou dentro do carro pouco depois de partirmos. Fez a maior sujeira no chão, nos bancos e no casaco dela. Pra melhorar, a amiga dela começou a reclamar porque ela não estava mais com o saquinho plástico de segurança na mão, porque ela não avisou que precisava tomar um ar e porque ela não quis vomitar dentro de uma bota de esqui que estava ali perto. O cheiro dominou o carro e, pouco depois, um alemãozinho pediu pro motorista deixá-lo sentar na janela, pois ele também estava prestes a............... Foi uma dança das cadeiras danada, e eu só pensava que ainda bem que a gringa não estava naquele carro, ou não teríamos como acomodar todas as pessoas ali e isoladas da sujeira.

Seguimos pelo resto do caminho com a janela aberta em uma noite em que a temperatura estava, seguramente, abaixo dos 5 graus e ouvindo pérolas de uma outra brasileira que primeiro disse que ia passar mal com o cheiro e depois deu graças a Deus por não estar sentindo cheiro de nada por estar com a sinusite atacada. Por fim, ela cravou: "acabei de deslocar o pescoço assoando o nariz". Eu paro de fazer comentários e escrever pérolas aqui.....

Mas o martírio durou pouco e umas duas horas e meia depois nós chegamos de volta à porta da escola e, finalmente, nos livramos dos azedumes para as narinas e ouvidos. Mesmo com os percalços, o passeio foi muito bom! Eu me saí um pouco bem e fiquei com vontade de conhecer também as estações de esqui dos Estados Unidos e tirar fotos iguais em outro lugar, mas ainda não mudei de ideia sobre quem passa férias vendo uma coisa só.

Comentários

  1. que bom que vc tá curtindo, neve é o maximo mesmo! aproveite bem sempre (sem azedumes na proxima!) bjssss saudades.
    mummy

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A verdade da vida

Why so many Brazilians in U.S.