Postagens

Mostrando postagens de 2011

Lágrimas no teclado e festa no céu

Imagem
Uma poltrona de couro vazia na sala e um carro branco órfão na garagem. Essa é a imagem que me faz derramar lágrimas sobre o teclado nesse momento. Tento substituí-la pelas boas lembranças que tenho quando estava perto do meu avô, que agora deve estar oferecendo um lanchinho de mortadela com queijo no tostex pra calibrar o colesterol de São Pedro..... E ai dele se não aceitar! A essa altura, eu estou aqui sofrendo e ele está lá tomando cerveja e jogando truco com outros tios que também deixaram saudades. No céu não existe hemodiálise, não tem remédio pra controlar pressão e a comida pode levar sal à vontade. No céu sempre tem um pássaro preto cantando e o cachorro nunca entra na sala. Lá ele pode dirigir, jogar bilhar e assistir repórter ou futebol a qualquer hora. Talvez ele seja escalado pra ficar na porta de entrada, orientando os recém-chegados sobre como estacionar o carro. Ou talvez fique na cozinha, fazendo a melhor caipirinha de todos os tempos. Uma frase que aprendi com

Malditos números

Para mim, economia, finanças e contabilidade são todos uma coisa só: números. Números chatos, que eu não entendo e que resultam de fórmulas que não fazem sentido. Acho bonito quem sabe trabalhar usando o Excel o dia todo..... dá impressão de ser pessoa séria, né? E os nomes dos cargos então: controller, analista financeiro, especialista em crédito. Gente que trabalha de terno e gravata no calor e que almoça todo dia no restaurante que eu só frequento de sexta-feira. Mas, quanto mais estudo números, mais tenho certeza de que eu não nasci pra isso. Sou do Word / Power Point, da marmita e da calça jeans. Eu só preciso ter o telefone e o e-mail de uma pessoa que será paga pra preparar todos os balanços e demonstrações contábeis pra mim. E isso vai ser fácil achar, porque nenhum dos meus amigos gosta disso, então todo mundo tem o telefone do contador na agenda do celular. Até lá em casa é assim: ninguém faz sequer a declaração do imposto de renda sozinho. Se eu achava que o curso

Um mês de casa nova

Quando cheguei em Berkeley, no dia 28 de agosto, fui direto para o YMCA - um tipo de hotel para longas estadias, onde eu tinha um quarto individual com frigobar e dividia o banheiro e a cozinha com os demais moradores. O lugar era super bem localizado (três quadras da escola e a duas do Bart que leva até San Francisco) e tinha uma excelente academia, que eu podia frequentar sem pagar nada por estar morando ali. No começo, foi um paraíso.... Pra quem estava vivendo no alojamento McDonald's / Orfanato das Chiquititas no Chile, ter aquele papel de forrar o vaso, sabonete líquido e a tradicional toalha de papel pra secar as mãos no banheiro era o cúmulo da limpeza. E ter serviço pra arrumar a cama e trocar toalhas todos os dias então.... 5 estrelas! Eu até tinha coragem de cozinhar ali e podia ir almoçar em casa todos os dias, o que parecia incrível. Mas, com o tempo, comecei a descobrir uns defeitinhos. Sabe aquele namorado que é perfeito na primeira semana e de quem você acha gra

Aventura em Yosemite

Imagem
Imagine um cenário de filme da Sessão da Tarde (se é que você ainda lembra como era ter tempo pra ver isso), em que escoteiros americanos vão acampar em um parque nacional e duas crianças se dispersam da turma, ficam apavoradas com barulhos de ursos na selva, sem saber pra onde ir e sem nenhuma forma de se comunicar com o resto do grupo. Aí você, que está comendo um monte de brigadeiro enquanto vê esse filme, pensa "Ah vá! Até parece que eles não teriam como se comunicar, que não teria uma luzinha artificial pra guiá-los e que os ursos ficam tão perto assim das pessoas... ainda mais nos Estados Unidos". Pois eu te digo que isso realmente poderia acontecer em Yosemite. Desde que cheguei em Berkeley, ouço gente falando que Yosemite é um dos lugares mais legais para se visitar aqui pelos arredores, onde há lindas paisagens e passeios outdoor super gostosos, tipo caminhada, rafting, escalada e afins. Então, na última sexta-feira sem aula que tivemos, resolvemos ir para lá.

O estereótipo do brasileiro

Eu estou longe de ser a brasileira paga-pau de estrangeiros, do tipo que viaja pra outro país e começa a dizer que “aqui tudo funciona, o povo é mais educado, a vida é mais fácil e blá blá blá”, mas, definitivamente, estar nos EUA e convivendo com gente de tantos lugares do mundo, têm me feito ver o meu país de maneira diferente. O meu curso - Global Business Management - fala bastante sobre os diferentes perfis culturais e a forma como eles influenciam as negociações e, muitas vezes, tendo a achar que algumas das nossas características são até boas para nos fazer articular acordos internacionais. A gente vive ouvindo dos governantes que estamos sendo reconhecidos e respeitados internacionalmente, mas a primeira coisa que me impressionou foi ver o quanto vários dos europeus que conheci recentemente acham que o Brasil é o país da alegria, onde o povo está sempre ouvindo música e vestindo pouca roupa. Como se a gente realmente vivesse num eterno carnaval. E eles afirmam "And tha

Mulherzinha em San Francisco

Imagem
Pelo intervalo do último post para esse, os meus seis leitores já perceberam que o tempo anda escasso ultimamente. Só com aula e academia, fico fora das 9h30 às 19h30 todos os dias e, quando abre uma folguinha de tempo, a opção número 1 de passeio é ir pra San Francisco. Hoje, domingo, só não estou fazendo isso porque preciso estudar um pouco de contabilidade para a prova da semana. E, só estou escrevendo no blog porque contabilidade é chato demais e eu não consigo me concentrar no livro, que é capaz de transformar 3 capítulos de matéria em um martírio sem fim. Enfim.... uma vez que o corpo está em casa e a cabeça dividida entre contabilidade e San Francisco, resolvi apelar para uma terceira via e escrever um pouco. Berkeley faz parte da Bay Area e fica bem pertinho de San Francisco. De BART (um tipo de metrô) a viagem custa cerca de US$3,50 e demora uma meia hora, o que é bastante interessante, ainda mais pq há uma estação a duas quadras do lugar onde eu estou hospedada. Eu estou

Brand new life - UC Berkeley

A viagem, a vida na Califórnia, uma extensão universitária na UC Berkeley e a oportunidade de conhecer gente do mundo inteiro pareciam um sonho para mim. Um sonho que durou uns oito meses e que me fez suar frio antes que eu pudesse acordar e pedir pra que alguém me beliscasse para eu ter certeza de que ele tinha se tornado realidade. E a realidade, como dizem por aí, dói. Dói porque a gente tem que começar relações do zero, porque a gente sente falta e morre de saudade dos amigos e familiares, porque a gente tem que dividir cozinha e banheiro com gente estranha e que come frango no café da manhã e sofre absurdamente de queda de cabelo, porque depois do primeiro carro a gente não sabe mais como usar o transporte público e por mil outras razões com as quais vamos tropeçando pelo caminho. Mas eu não posso reclamar da dor e da delícia de estar aqui.... A começar pela viagem. O Chile é um bom lugar para se comprar roupas e eletrônicos, mas nada que chegue perto dos Estados Unidos.

Se eu fosse mexer no Wikipédia……

…..Santiago seria a cidade: - Com bom transporte público e trânsito relativamente tranquilo para uma metrópole - Onde os motoristas sobem na guia da calçada como se fosse zebra (inclusive quem dirige ônibus) - Em que paga-se muito para comer mal e pouco para comer bem. Um almoço num botequinho em que se come frango assado com batata frita encharcada custa uns R$15, enquanto um jantar num dos restaurantes mais badalados da cidade e que inclua couvert, pisco sour, música ao vivo, prato principal e sobremesa custa menos de R$60. - Que vende empanadas em quase todas as esquinas, mas onde é quase impossível comer uma boa empanada - Onde, em contrapartida, o suco de framboesa e chirimóia são deliciosos - Com uma população bastante politizada e engajada em fazer valer seus direitos e vontades. As feridas deixadas pela ditadura de Pinochet ainda estão abertas e o consenso é: nunca mais. Muito se faz para preservar a memória do que se passou para que as gerações que estão por vir saibam o que

"Cavalgando" nos Andes

Imagem
No meu último post sobre Cajon del Maipo, eu comentei que se tratava de um lugar tão bonito que não precisamos sequer fazer alguma coisa para aproveitá-lo. No entanto, após ouvir histórias de pessoas que planejaram a ida até os parques da região, cheguei à conclusão de que eu devia voltar pra lá de forma mais organizada, pois eu poderia curtir ainda mais o passeio. Me disseram que táxis coletivos saiam de uma estação de metrô e deixavam os passageiros na porta de um dos melhores parques da região: Cascada de las Animas. Nesse local, eu poderia escolher entre cavalgar, caminhar, fazer tirolesa, rafting ou um passeio por vinícolas. Como eu estava cansada por ter esquiado no dia anterior e com pouca disposição pra fazer trekking até o local onde a paisagem fosse bonita (5hs de caminhada íngreme), resolvi deixar o esforço com o cavalo e escolhi um passeio de pouco mais de 2 horas até um mirador. Óbvio que eu não fui com as minhas botas de montaria para não destruí-las e, talvez, esse ten

A la nieve

Imagem
Vir ao Chile nessa época do ano é um convite para visitar uma estação de esqui. Mesmo quem não é a fim de se arriscar descendo as montanhas em cima de um ski ou snowboard, tem vontade de ir conhecer o local para desfrutar da paisagem. As montanhas ficam cobertas de neve, as revistas de fofoca trazem celebridades para serem fotografadas aqui e as empresas inventam descontos, estandes e espaços vips para se promoverem. Várias pessoas, inclusive, estão no Chile só para isso. Elas ficam hospedadas nos hotéis dentro das estações e passam dias praticando, praticando e praticando. Até acho "phyno", mas eu só faria isso se pudesse aproveitar minhas outras 3 semanas de férias conhecendo vários lugares diferentes. Fora que esse é o tipo de férias das quais vc volta com um monte de fotos iguais! Afinal, não mudam nem a paisagem e nem as roupas. No meu caso, fiz questão de trocar o cachecol pra poder distinguir o dia, pois o casaco e a calça eram sempre os mesmos (fiz um bom negócio e

O país de chineses e de Pablo Neruda

Imagem
Eu já estava esperando que os chineses fossem dominar o mundo, mas não imaginava "sentir isso na pele" tão cedo. Digo isso porque tenho a impressão que eles estão tentando recolonizar o Chile. Chegaram os estudantes que vão passar um semestre acadêmico aqui e, quase todos, são chineses. Aí, em colônia, eles colocaram as asinhas de fora. Na festinha de boas vindas da última sexta, as meninas cercaram a churrasqueira e, com toda a destreza de quem está acostumada a cortar tofu e bambu, acabaram com a alegria alheia. A carne ficou dura pra caramba e, mesmo assim, foi devorada por elas antes que fosse servida ao resto do povo. No fim, gastei 2 mil pesos pra comer um pedacinho de choripan e depois saí em busca de uma empanada pra matar a minha fome antes da balada. A parte boa é que acabei conversando mais com outros dois brasileiros que estão aqui no El Punto e que também vieram ao Chile para estudar espanhol (só que estão em outra escola). A verdade é que não tem jeito.... a

Manifestações estudantis

Imagem
Ao sair para ir para a escola essa manhã, notei que havia muitos carabineiros nas ruas de Santiago. No entanto, ao longo do meu caminho, sempre passo pelos principais pontos de reunião de estudantes para início de manifestações contra o sistema de educação vigente e não vi nenhum outro sinal de que um protesto estava para começar. Pura sorte! Pouco depois de chegar na escola, começamos a ouvir barulho vindo das ruas e, quando olhamos pela janela, vimos policiais, enormes viaturas e pessoas fugindo do protesto.  Na verdade, os transeuntes fugiam é da repressão ao protesto. Aqui no Chile é necessário pedir permissão ao Governo para fazer uma manifestação, para que o Estado possa organizar um esquema de segurança compatível. No entanto, este pedido é negado quando os estudantes e professores pedem autorização para marchar contra o sistema de educação (imposto na época do Pinochet) e contra a atitude do próprio Governo, que não atende às suas reivindicações com a reforma que está sendo

Fim de festa

Foram os anéis e ficaram os dedos. Essa é a sensação que tenho depois do último final de semana, quando os meus amigos voltaram para a vida real. Todos brasileiros, mas um de cada parte do país e com jeitinhos muito peculiares. Com certeza, não teríamos nos conhecido no Brasil e, caso nos cruzássemos, teríamos má impressão uns dos outros. Mas Santiago reuniu patricinhas, hippies, nerds, emos, japas e eu (que sou a normal da turma... só tenho cara de brava - afinal de contas, o Blog é meu e eu faço a auto-análise que eu quiser). Estávamos sempre juntos, mas as férias deles se acabaram - e o primeiro sonho dessa minha nova vida também. Ainda restaram pessoas legais por aqui, mas o clima já não é mais o mesmo. A escola agora tem quase o mesmo tanto de gringos e brasileiros e, finalmente, falamos espanhol nas áreas comuns. A quantidade de bolachinhas servidas no intervalo foi reduzida pela metade e ainda sobra. Não há mais fila para pegar café ou ir ao banheiro e nem tem quórum para os p

Cajon del Maipo - planos pra que te quero?

Imagem
Quando se está longe de casa, é necessário planejar bem os passeios a serem feitos, pois, na maioria das vezes, faltam dias e sobram lugares para se visitar. No último final de semana, pensávamos em visitar Isla Negra, onde há uma das casas de Pablo Neruda. Era noite de sábado e, enquanto olhávamos os horários de partidas de ônibus, uma amiga da residência comentou que iria com seu "rolinho" para Cajon del Maipo na manhã seguinte. Por curiosidade, resolvemos dar um Google no nome desse lugar, que ainda era desconhecido. As fotos e informações encontradas nos fizeram mudar de ideia aos 45 minutos do segundo tempo e reprogramar o passeio do dia seguinte, seguindo os passos do casal. Para ir a Cajon del Maipo é necessário pegar um ônibus intermunicipal na rodoviária de Santiago e andar nele por cerca de 1h45. Cientes da distância, nos programamos para sair do hostel às 8hs da manhã. O atraso é tão óbvio que nem precisa ser mencionado.... chegamos à rodoviária por volta de 10h30