Aventura em Yosemite


Imagine um cenário de filme da Sessão da Tarde (se é que você ainda lembra como era ter tempo pra ver isso), em que escoteiros americanos vão acampar em um parque nacional e duas crianças se dispersam da turma, ficam apavoradas com barulhos de ursos na selva, sem saber pra onde ir e sem nenhuma forma de se comunicar com o resto do grupo. Aí você, que está comendo um monte de brigadeiro enquanto vê esse filme, pensa "Ah vá! Até parece que eles não teriam como se comunicar, que não teria uma luzinha artificial pra guiá-los e que os ursos ficam tão perto assim das pessoas... ainda mais nos Estados Unidos". Pois eu te digo que isso realmente poderia acontecer em Yosemite.

Desde que cheguei em Berkeley, ouço gente falando que Yosemite é um dos lugares mais legais para se visitar aqui pelos arredores, onde há lindas paisagens e passeios outdoor super gostosos, tipo caminhada, rafting, escalada e afins. Então, na última sexta-feira sem aula que tivemos, resolvemos ir para lá. A escolha, na verdade, foi de um coreano da minha sala, que faria aniversário no sábado e que queria fazer algo especial para comemorar a data. Outras doze pessoas gostaram da ideia e resolveram ir, e ele fez a reserva em um hotelzinho tipo Inn ali por perto.

Saímos de Berkeley por volta de 10h30 da manhã e, com as paradas para abastecer e ir ao banheiro, chegamos ao parque quase 15hs e sem almoçar. Nossa primeira parada foi no posto de informações, onde encontramos o guia mais mal-humorado da América. Nós perguntamos mais de uma vez o que era legal conhecer e qual roteiro ele recomendava pra quem estava com pouco tempo e a resposta foi uma só: "Guys, eu não posso decidir por vocês. Tem a descrição do que vocês vão ver em cada ponto aí no jornal. Escolham o que parecer mais interessante pro gosto de vocês". Felizmente, tudo por lá era bonito e todas as nossas paradas foram em lugares incríveis.


El Capitan


Yosemite Falls
Em algum mirante


Valley Tunnel
Glaciais - Fim de tarde
Palestra "Observando estrelas" a 7.000m de altitude - Eu não enxerguei quase
nenhuma constelação e quase morri de dor de ouvido, mas adorei!

Após o fim da "palestra" sobre estrelas, nós pegamos o carro e partimos rumo ao hotel. Estávamos cansados, com fome e com um bolinho pra cantar parabéns para o nosso amigo coreano. Então colocamos o endereço no GPS e começamos a seguir as instruções. Estranhamente, ele nos mandou entrar numa estradinha de terra, onde não tinha luz, mas que era atalho para chegarmos à rodovia. Depois de andarmos por alguns quilômetros, eu fiz o seguinte comentário no carro: "Nossa turma é tão legal! Estamos num lugar desses, no meio do nada, e todo mundo está encarando isso numa boa. Se fosse outra galera, estariam surtando".

A pergunta é: pra quê eu fui dizer isso? No minuto seguinte, o pneu do carro do coreano furou. Quando olhamos o step, nos demos conta que, nos EUA, o step é realmente feito para pouco tempo de uso: parecia um pneu de bicicleta!! Ele nem sabia como usar o macaco, porque disse que nunca tinha feito isso na vida, e os demais assumiram a missão. 




Quando o pneu estava colocado, mas com os parafusos ainda por serem apertados, começamos a ouvir barulho de ursos quebrando galhos na selva, que estava logo ali do nosso lado e sem nenhuma proteção. Aí sim todo mundo surtou e correu pra entrar nos carros! O pior é que o relógio não estava a nosso favor, pois nossa reserva só valia até meia-noite e, se perdessemos esses quartos, sabíamos que o valor seria debitado de qualquer forma e que seria difícil encontrar outro lugar pra 13 pessoas dormirem. Mas os celulares estavam todos sem sinal e não tínhamos como ligar pra avisar que, mesmo a duras penas, estávamos a caminho. Quando deu coragem de abrir os vidros e portas, os meninos terminaram de arrumar o pneu e resolvemos dar um jeito de virar o carro naquela estrada estreita e voltar pra civilização. Lembrávamos de ter passado por um hotel antes de pegar o atalho e combinamos de ir até lá pra pedir informação sobre como chegar ao nosso hotel por um caminho asfaltado. 

Ao chegar ao hotel, conversamos com a recepcionista e contamos nossa história. Ela ficou com tanta dó que passou todas as direções muito certinho, imprimiu um mapa do Google, explicou onde poderíamos consertar o pneu no dia seguinte (afinal, não teríamos como seguir tantos quilômetros com o step). Enquanto isso, todos os treze membros da  turma usaram o banheiro, o telefone do hotel e tomaram da água que estava disponível no saguão para os hóspedes até que ela terminasse. Como já tinha passado de meia-noite, era hora de cantar parabéns para o coreano e matar um pouco da fome da galera com um pedaço de bolo, então resolvemos fazer isso no jardim de entrada e só terminamos a bagunça quando nos demos conta que poderíamos estar incomodando os hóspedes dos quartos.


Finalmente, pegamos a estrada asfaltada e no caminho certo e fomos chegar ao nosso hotel por volta de 1h30. Até esse momento eu estava achando graça de tudo, pensando que a história renderia um post interessante e que é esse tipo de aventura dá tempero pra vida. Mas, chegando no quarto, descobri que o tempero daquela noite era o azedo: a europeia que dividiu a cama comigo não quis tomar banho antes de dormir! Aí sim foi o meu momento de surtar e parar de achar graça. Rrrrrr - Malditas diferenças culturais!

Enfim.... depois de tudo isso, acordamos no domingo e fomos atrás de comer (finalmente!!), resolver o problema do pneu e só depois iniciar o passeio. Rodamos por um tempo até encontrar uma oficina que estivesse aberta e que pudesse dar um jeito na roda, que também tinha sido avariada. De lá, voltamos para Yosemite e fizemos a trilha que havia sido escolhida no dia anterior, que passava por sequóias gigantes. Vimos mais um monte de paisagens lindas e que renderam boas fotos e, felizmente, não tivemos mais grandes emoções no caminho de volta pra Berkeley.




O domingo seguinte foi o dia mais morto desde que eu saí do Brasil. Eu tinha um monte de coisas pra ler, mas mal conseguia manter os olhos abertos. Passei o dia todo pescando em cima dos livros e acordei na segunda-feira com um enorme peso na consciência por não ter aproveitado o dia livre para estudar. O alívio veio quando os outros 12 me disseram que estavam nas mesmas condições. Aí fiquei bem, pois a culpa virou compartilhada e, logo, se tornou bem pequena perto das lembranças de uma viagem de aniversário que será inesquecível para o nosso amigo coreano.

Comentários

  1. Hy my dear girl.
    Amei seu passeio; até escutei os ursos e ouvi o barulho das portas dos carros se fechando...Fiquei imaginando a confusão no hotel que os acudiu. É assim...aproveite mesmo cada momento mas....não pode se descuidar dos estudos (mãe, tia, vó numa só pessoa dá nisso). Estarei sempre curtindo sua viagem com você e quero esclarecer que escrevo como anônimo porque na minha santa ignorância das modernidades não sei como fazer para selecionar o perfil e daí por diante...tentei, tentei e daí não postava meu comentário...então, fique registrado que a anônima sou eu. Tá? beijos minha linda. Tia Di

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  2. Filha, URSOS ???? nóóóssa !!! de noite , numa estradinha ?? eu teria surtado antes mesmo da coleguinha de quarto decidir seguir seus hábitos
    de asseio =( schellcht

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  3. Dona Amanda, qdo é que a senhorita vai me dar notícias, hein? Nunca mais mandou emails...
    Saudades!

    bjos,

    Li

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