O estereótipo do brasileiro
Eu estou longe de ser a brasileira paga-pau de estrangeiros, do tipo que viaja pra outro país e começa a dizer que “aqui tudo funciona, o povo é mais
educado, a vida é mais fácil e blá blá blá”, mas, definitivamente, estar nos EUA e convivendo com gente de tantos lugares do mundo, têm me feito ver o meu país de maneira diferente. O meu curso - Global Business Management - fala bastante sobre os diferentes perfis culturais e a forma como eles influenciam as negociações e, muitas vezes, tendo a achar que algumas das nossas características são até boas para nos fazer articular acordos internacionais.
A gente vive ouvindo dos governantes que estamos sendo reconhecidos e respeitados internacionalmente, mas a primeira coisa que me impressionou foi ver o quanto vários
dos europeus que conheci recentemente acham que o Brasil é o país da alegria,
onde o povo está sempre ouvindo música e vestindo pouca roupa. Como se a gente
realmente vivesse num eterno carnaval. E eles afirmam "And that is why we love you!!". Penso que nossa mídia e a indústria do
turismo são os grandes culpados por isso e que, em dada altura, isso se transforma em um tormento para um bate-papo de igual pra igual mesmo em um território neutro como o americano. Em qualquer discussão com eles (de bar ou em sala de aula) surge um momento de tensão do tipo: mas na América Latina é assim, certo? E, quando você explica que a visão deles é distorcida, eles rebatem: "mas é pra maioria, não é?". E, mesmo que você tente mostrar como as coisas estão mudando e o que significa ser um país em desenvolvimento hoje em dia, eles sempre deixam transparecer um certo preconceito que já faz parte da crença deles e que, em relação ao Brasil, é ainda mais estereotipado que para o resto da América Latina.
Soa quase como se a economia brasileira fluísse bem porque o mundo não está em um bom momento e, logo, eles estivessem nos dando essa oportunidade de nos destacarmos a partir da retração europeia. O nosso potencial mesmo seria só pra samba, futebol e farra. Fora isso, o fato de alguns estarem em um "mundo colorido" dificulta que eles entendam nossas diferenças e tradições sociais. Tem um loirinho da minha sala que começa 90% das suas frases com "Mas na Dinamarca....".
Soa quase como se a economia brasileira fluísse bem porque o mundo não está em um bom momento e, logo, eles estivessem nos dando essa oportunidade de nos destacarmos a partir da retração europeia. O nosso potencial mesmo seria só pra samba, futebol e farra. Fora isso, o fato de alguns estarem em um "mundo colorido" dificulta que eles entendam nossas diferenças e tradições sociais. Tem um loirinho da minha sala que começa 90% das suas frases com "Mas na Dinamarca....".
Já os asiáticos têm a impressão
que somos pouco respeitosos (pra não dizer mal educados) uns com os outros. No Brasil todo
mundo se atrasa pras reuniões, fala ao mesmo tempo, gesticula, toca o outro,
olha no olho, pergunta da vida, não respeita cargo nem idade etc. E, para eles,
o mais impressionante é que, mesmo fazendo tantas coisas que serviriam de
motivos para que detestássemos uns aos outros, a gente tem a facilidade de
estar sempre querendo sair pra passear, tomar uma cerveja e conversar um pouco
mais.
No sábado que fui ao jogo, por
exemplo, eu estava acompanhada de outros quatro latino-americanos reis da
informalidade e de um chinês que vive no Japão há 19 anos (só por essa mudança de país vc já pode imaginar que ele é mais mente aberta que a maioria dos asiáticos, ok? Os demais nem interagem muito conosco). Depois de nos
apertarmos em quatro no banco de trás do carro, de sentarmos em uma fileira que
não correspondia àquela marcada em nosso ingresso e de ficarmos o jogo todo
conversando e sem prestar atenção no que estava acontecendo dentro do campo,
notamos que o nosso amigo asiático estava meio de saco-cheio da nossa
companhia. Em um determinado momento, ele até saiu de perto para assistir o
jogo sozinho em outro lugar..... Ele ainda teve paciência de jantar conosco e
ouvir mais algumas piadas que, para ele, não faziam sentido, pois não estavam
dentro do seu “background humorístico”. Mas, quando dissemos a ele que íamos
dali para um bar, foi a gota d’água: ele pediu pra voltar pra casa, pois já
estava “cansado”.
Na verdade, acho até que ele se
saiu super bem conosco ao longo do dia. Eu teria ficado muito mais tímida no
meio de 5 orientais legítimos e, com certeza, também tentaria escapar da ida ao
bar depois de passar o dia todo no meio deles. Mas isso acontece porque, em
dado momento, as diferenças culturais te impedem de avançar muito sobre
determinados assuntos com eles. As nossas conversas, pelo menos por enquanto, foram sempre
com o tom: “Pra nós é assim, e pra vocês?”. Isso é: eles conhecem menos ainda sobre nós do que os europeus.
Com os latinos eu
já descobri que temos bastante em comum e, por isso, ando me aproximando mais deles. Uma colombiana da minha sala, por exemplo, viveu 5 anos em Madrid trabalhando como executiva em um banco. Segundo ela, o que a fez voltar para a América Latina foi justamente essa sensação de não-pertencimento à cultura local e de rebaixamento da sua opinião (e olha que ela é boa de opiniões e de conhecimento, viu).
É bem verdade que deve ser mais fácil
viver num país sem corrupção e com bom IDH e só precisar reclamar porque lá faz
frio o ano todo ou porque as mulheres têm muito peito e pouca bunda. Mas só de ver que esse padrão de raciocínio quadradinho e supostamente superior emoldura qualquer análise que eles querem fazer sobre o outro, me dá um pouco de preguiça. Estou ciente de que sou minoria em classe e orientação educacional no Brasil, mas tenho orgulho da minha cultura latina e consciência de que as oportunidades de crescimento profissional estão bem maiores lá do que aqui ou, muito menos, na Europa. Ganhar em dólar ou euro e poder atravessar a rua sem se preocupar (pois vc está certa que os carros vão parar sem reclamar) são realmente coisas boas, mas ser olhado de cima por alguém teria um preço muito alto pra mim.
Olá Amanda aqui é a Tina.
ResponderExcluirEstou adorando ler o seu blog, é como se eu estivesse lendo um livro,e ao mesmo tempo aprendendo um pouco mais da cultura.
Gosto muito do jeito que você escreve(leve e bem humorado).Quis que você soubesse que sou mais uma admiradora sua.
Oi Tia!
ResponderExcluirObrigada!!
Legal saber que vc está gostando =)
Beijos
I like your blog!! And I loved the article..
ResponderExcluirBrilhou, ratao! Nao adianta, Brasil é Brasil! mesmo com todos os problemas e com a ignorancia da maioria do povo, não dá pra trocar nosso país e cultura por nenhum outro! Fora que só o Brasil é penta.... hahhahahaha falloww!
ResponderExcluirÉ minha linda, ser estrangeiro em qualquer lugar é complicado. Mas temos que nos valorizar, deixar que eles falem e pensem o que quiserem. Seja por ignorância, seja por se acharem superiores. O ser humano é igual, não tem essa de ser mais que ninguém. Se alguns nascem e vivem em países mais organizados, mais eficientes, mais qualquer outra coisa, isto não dá o direito de alguém inferiorizar ninguém. Você é mais você, é tão ou mais capaz de qualquer um de sua sala ou de faculdade. Siga firme, independente da sua nacionalidade, não se apegue a isto do que eles falam....com sua capacidade, sua inteligência, seu jeito meigo e bom astral, você deixará com eles uma bela lembrança e pleno conhecimento do que é, na essência, um ser humano. Understand my little big Amanda. Beijos Tia Di
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