Brand new life - UC Berkeley

A viagem, a vida na Califórnia, uma extensão universitária na UC Berkeley e a oportunidade de conhecer gente do mundo inteiro pareciam um sonho para mim. Um sonho que durou uns oito meses e que me fez suar frio antes que eu pudesse acordar e pedir pra que alguém me beliscasse para eu ter certeza de que ele tinha se tornado realidade.

E a realidade, como dizem por aí, dói. Dói porque a gente tem que começar relações do zero, porque a gente sente falta e morre de saudade dos amigos e familiares, porque a gente tem que dividir cozinha e banheiro com gente estranha e que come frango no café da manhã e sofre absurdamente de queda de cabelo, porque depois do primeiro carro a gente não sabe mais como usar o transporte público e por mil outras razões com as quais vamos tropeçando pelo caminho.
Mas eu não posso reclamar da dor e da delícia de estar aqui....

A começar pela viagem. O Chile é um bom lugar para se comprar roupas e eletrônicos, mas nada que chegue perto dos Estados Unidos. Por isso, me contive muito enquanto estive lá, pois queria ter dinheiro e espaço na mala para poder perder a cabeça aqui. Sendo assim, adquiri o mínimo possível de coisas nessas quase sete semanas: uma calça e um casaco para esquiar e uma camiseta do Colo Colo. Estranhamente, eu entrei no país com 28kg de bagagem e, após acrescentar só isso e mais uns livros de poesia do Neruda e de estudos em espanhol, saí de lá com quase 42kgs. A explicação que eu encontro é muito simples: a água cheia de minerais do Chile deve pesar pra caramba, pois eu também saí de lá muito mais pesada do que quando entrei! 

Não sei se por sorte ou por retribuição à ajuda de comunicação que dei para que a moça do check-in da LAN se entender com o casal de turistas americanos, eu não precisei pagar excesso de bagagem. Dessa vez o avião era confortável e a passageira da cadeira ao lado era controlada. O único estranho que conheci foi um tiozinho da Carolina do Norte que tinha ido até Buenos Aires para praticar tiro ao alvo com pássaros. Eu fiquei horrorizada com a sua frieza e com a quantidade de tártaro que ele tinha na boca, então nem dei muita trela e, na primeira oportunidade, escapei da zona de alcance dos olhos dele. 

Ao chegar no aeroporto de Miami, onde eu fiz a conexão para San Francisco, eu vi mais duas pessoas com passaporte azul e protegido pela capinha plástica da STB. Não deu outra: brasileiros a caminho de Berkeley para o mesmo programa da UC. Um deles está até hospedado no mesmo lugar que eu e a outra é da minha sala. Foi ótimo conhecê-los logo de cara, pois já sentimos que não estávamos tão abandonados no mundo e, na mesma tarde que chegamos em Berkeley, fomos juntos ao supermercado da cidade e já combinamos um passeio para San Francisco no dia seguinte.

Na terça-feira (30/08 - resolvi colocar data dessa vez, pois uma tia reclamou que se perdia no tempo lendo minhas histórias) foi o meu primeiro dia de aula. A turma de Global Business faz jus ao nome e une brasileiros, indianos, belgas, espanhóis, alemães, coreanos, chineses, japoneses, dinamarqueses, argentinos, chilenos, colombianos e afins. É muito interessante que cada um tem uma forma de ver o mundo e o mercado, pois ela está totalmente moldada por culturas e experiências específicas. Isso enriquece bastante as discussões em sala e mesmo fora dela e nos faz pensar como o comportamento das pessoas pode variar tanto de um país para outro. Coisas pequenas, como cumprimentar alguém com um beijo no rosto ao invés de um aperto de mão, podem virar motivo de confusão. 

Por enquanto, estou tendo aula de finanças e contabilidade (e detestando-as) e de international business. O ritmo é puxado: quase todos os dias das 9h30 às 16h30. Notei que meu inglês está bem enferrujado e que meu vocabulário do CCAA não é muito adequado para apresentações de projetos dessas matérias. Fora isso, às vezes é complicado entender a pronúncia de algumas pessoas da sala, pois cada um usa um sotaque diferente. Mas acredito que tudo isso vá melhorar com o passar do tempo.

Ao contrário do Chile, em Berkeley eu estou hospedada em um alojamento que fica a três quadras da Universidade. Por isso, fiz poucos percursos a pé até agora e ainda não conheço muito bem a cidade, que à primeira vista parece ser bem gracinha e totalmente voltada aos universitários. O hotel é muito melhor que o alojamento MC Donalds e, embora a maioria das pessoas reclame da limpeza e do padrão dos quartos, eu estou bem satisfeita, pois tenho um termo de comparação bastante inferior.

O meu quarto tem um frigobar e está próximo ao banheiro. A cozinha, apesar de movimentada, costuma estar arrumada. Aqui há poucos chineses e muitos japas, que são muito mais legais e interativos. Eu me senti à vontade e arrisquei fazer a minha primeira panela de arroz na semana passada. Um dos japas (isso é, alguém que vem da parte onde mais se come arroz no mundo) esticou o olho na minha panela e perguntou:
- O que vc está fazendo?
Eu disse: "arroz"
- "Arroz??? Nossa, que diferente!!"
Pelo breve diálogo, já se pode imaginar que a cara do meu arroz não era das melhores, mas eu posso dizer que o sabor até que superou minha expectativa.
Ruim mesmo foi que eu comprei uma cebola para usar como tempero e a guardei dentro de um saquinho plástico no meu frigobar. O cheiro dominou meu quarto e, até que eu descobrisse o que estava acontecendo, passei algumas noites dormindo com a janela aberta pra ver se o cheiro aliviava.

A internet aqui funciona super mal e assistir um vídeo no youtube é quase um parto e TV Online virou artigo de luxo. Em compensação, a diária inclui o uso à academia do local, que tem absolutamente tudo o que eu possa querer usar pra treinar. O cenário me animou e, logo na primeira semana, eu já fui à GNC para comprar uns termogênicos e ver se recupero o estrago que a "água" do Chile causou. Perto daqui há várias praias e, com quatro horas de vôo e US$300 é possível visitar o Hawaii. Então eu preciso ter coragem pra vestir um biquíni outra vez.

Aliás, o que não falta aqui perto são passeios e cidades para se conhecer. Por enquanto, eu só fui para São Francisco e Napa Valley -  vou contar um pouco mais sobre cada um em posts posteriores - mas acho que a história de deixar a janela aberta me fez ser encontrada por mosquitos de Las Vegas, Lake Tahoe, Los Angeles e Nova York. Acho que desse bichinho eu também tenho alergia: tomo uma picada e empolo toda!
Então pretendo aproveitar a oportunidade e investir na cura dessa coceira com antídotos locais. 
Wanna come?

Comentários

  1. É isso mesmo; aproveite e desfrute de tudo. Beijos

    ResponderExcluir
  2. Amandita! Que saudades!
    Só hj consegui parar pra ler seu blog.
    Já dei várias risadas...
    Como está tudo por aí?
    Vê se responde meu último email e me conta as novidades!

    bjos
    Li

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Why so many Brazilians in U.S.

A verdade da vida